Gabriela Lucas Rocha*
Ter uma Sala de
Recursos é mais uma grande conquista para a Escola. Lembrando que toda Inclusão
depende primordialmente do olhar de cada um.
O paradigma
da inclusão educacional orienta o processo de mudanças desde a educação comum
aos serviços de apoio especializados com vistas a promover o desenvolvimento
das escolas, constituindo práticas pedagógicas capazes de atender a todos os
alunos. O sistema educacional inclusivo está fundamentado na Constituição
Federal/88, que garante a educação como um direito de todos, e no Decreto Nº.
6.949/2009, que ratifica a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência (ONU/2006), assegurando o direito de pleno acesso à educação em
igualdade de condições com as demais pessoas.
Dessa
forma, a construção da educação inclusiva requer a definição de políticas
públicas que visem a alterar a organização dos sistemas paralelos de ensino
comum e especial, consolidando uma proposta de educação especial integrada ao
projeto político pedagógico da escola comum, capaz de contrapor as diferentes
formas de exclusão e garantir as condições de acesso, participação e
aprendizagem. Conforme a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
da Educação Inclusiva (MEC/2008), a educação especial constitui uma modalidade
de ensino não substitutiva à escolarização dos alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. O
Decreto Nº. 6.571/2008 define o Atendimento Educacional Especializado - AEE e
institui o financiamento, no âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, para a
oferta do AEE aos alunos matriculados nas classes comuns do ensino regular da
rede pública.
Com
vistas a orientar a oferta do AEE em articulação com o ensino regular, o
Conselho Nacional de Educação - CNE estabelece Diretrizes Operacionais para o
AEE na Educação Básica, por meio da Resolução Nº. 4/2009. Neste contexto,
ampliam-se as políticas públicas para o desenvolvimento inclusivo das escolas
por meio dos programas de acessibilidade, formação continuada de professores e
implantação de salas de recursos multifuncionais na rede pública.
Sala de Recursos é a implementação de serviços
de apoio pedagógico especializado e tem por objetivo melhorar a qualidade na
oferta da educação especial da rede estadual, mediante uma reorganização que
favoreça a adoção de "novas metodologias", nas classes especiais bem
como a inclusão gradativa do alunado em classes comuns do ensino regular. “ É um espaço organizado com materiais didáticos, pedagógicos,
equipamentos e profissionais com formação para o atendimento às necessidades
educacionais especiais, projetadas para oferecer suporte necessário à estes
alunos, favorecendo seu acesso ao conhecimento, podendo atender alunos com
deficiência, altas habilidades/superdotação, ou outras necessidades
educacionais especiais.”
A
Sala de Recursos oferece às escolas públicas, atendimento às crianças que
apresentam dificuldades de aprendizagem, não
é Reforço Escolar. A aprendizagem é concebida como processo de interlocução
das pessoas com o mundo, no qual educar passa a ser fundamentalmente movimento
e relação. Nesse contexto, quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende
ensina ao aprender. Educador e educando tornam-se cúmplices na grande e
desafiadora aventura de viver, reinventando a cada dia a alegria e o prazer de
aprender / ensinar, de conhecer / recriar o mundo e a si mesmos como cristãos construtores
do Reino de Deus na Terra. Muitas vezes um olhar focado no aluno, nas suas
vivências, nos seus vínculos, na sua maneira de aprender, na relação que ele
estabelece com o conhecimento trazem-nos pistas valiosas que irão facilitar
nossa prática educativa. Sabe-se que, em uma sala de aula com escassez de recursos
e muitos alunos, isso pode não acontecer.
O
projeto oferece, meios para que dificuldades sejam atenuadas, alternativas para
que o processo de descobertas e o relacionamento aluno- escola seja melhorado.
Desejo que, através do trabalho desenvolvido na Sala de Recursos, o aluno
encontre o gosto pelo saber e se torne sujeito ativo de sua própria
aprendizagem. Que, através das experiências vivenciadas e pela mediação desses
recursos, desenvolva mais sua autonomia e aprimore seus relacionamentos com as
pessoas e com sua comunidade.
● OBJETIVOS
ü Assumir o atendimento a crianças com
dificuldades de aprendizagem, geradoras de exclusão, viabilizando sua
reintegração ao espaço escolar de origem;
ü Atender crianças da Rede Pública que estejam
apresentando dificuldade no processo de Alfabetização;
ü Oferecer um atendimento diferenciado
ao aluno das classes de Ensino Regular, pelo enriquecimento de recursos, pela
variedade de procedimentos e pela individualização
do ensino;
ü Promover o protagonismo do aluno, como agente de sua
aprendizagem, pela valorização de sua identidade e pela consciência do valor do
conhecimento para uma vida mais plena;
ü Promover a valorização de outras habilidades e
potencialidades da criança, bem como a questão da afetividade e de outros
caminhos que tragam felicidade, autonomia e realização para o aluno;
ü Criar condições para que o trabalho da Sala de
Recursos seja diferente do da sala de aula (individual, pequenos grupos ou
grupos de até 6 alunos);
ü Resgatar o prazer de aprender e, ao
mesmo tempo, valorizar a importância do esforço e da perseverança no trabalho;
ü Ouvir o aluno
e, através dessa escuta, descobrir o "melhor caminho" a ser seguido;
ü Ajudar o
aluno a compreender e a trabalhar com a questão do tempo (uso de ampulhetas e relógio);
ü Identificar e
utilizar tudo o que é motivador para esse aluno;
ü Identificar,
na família, qual a pessoa com quem poderemos contar, por exercer influência positiva
sobre a criança;
ü Ajudar o
aluno a descobrir como ele aprende e como deve estudar para obter sucesso na
escola;
ü Criar o
hábito da auto-avaliação constante, revendo tudo o que é realizado (elaboração
mental);
ü Contar com
material variado que ajude na leitura;
ü Ler muito para a criança (variados e significativos
tipos de textos);
ü Estimular trabalhos que envolvam criatividade;
ü Resgatar sempre a auto-estima, mostrando para
a criança seus avanços, incentivando-a
a prosseguir, melhorando seu desempenho, quer de hábitos sociais, quer de
conteúdos previstos;
ü Estabelecer, periodicamente, pequenas metas a
serem alcançadas, mapeando-as graficamente,
de maneira que a criança possa acompanhar seu desenvolvimento;
ü Família e aluno devem assinar um compromisso
de trabalho com a Sala de Recursos envolvendo a questão da freqüência e
pontualidade;
ü Se houver necessidade, a criança pode ser
encaminhada a outros serviços (fonoaudiológico, psicológico).
● ESTRATÉGIAS
O
planejamento para o trabalho com cada criança é traçado a partir de uma
avaliação diagnóstica, realizada de maneira interventiva, objetivando a
percepção das potencialidades do aluno, de acordo com suas reações, sem
mediação e, posteriormente, com mediação. Todo trabalho é centrado na realidade
da criança, em sua identidade, seu nome, sua família, suas motivações, no que
ela já sabe, em seu repertório de competências, em suas habilidades, em sua
singularidade.
A
partir desse espírito de acolhimento e respeito, cria-se uma abertura para o
diálogo, abrindo-se para o novo, para o outro e para o entorno.
Trabalhando-se
sempre o cognitivo junto com o afetivo, criam-se vínculos que facilitarão e
darão maior sabor à aprendizagem.
O
trabalho apoia-se na inter-relação das crianças, em duplas ou em grupos, porque
é sabido que o seu desenvolvimento é facilitado pela mediação estabelecida com
seus pares. Mesmo acreditando na capacidade do educando, sabemos que nem sempre
o seu ritmo corresponde às expectativas dos ensinantes. É fundamental nesses
casos, mantermos o espírito aberto, porque se algumas portas se fecham, com
certeza, outras janelas se abrem.
Através
do uso de várias atividades adequadas ao momento da criança, é possível
ajudá-la a ter consciência de como ela aprende, como é capaz e o quanto o aprender
é gratificante. Através do jogo, da história, de atividades criativas, de novas
descobertas, vai se dando significado e o prazer de conhecer ressignificado.
O
educador deve oferecer caminhos alternativos para a aprendizagem, sempre que
for necessário, bem como fazer com que essas experiências estejam
contextualizadas.
Durante o trabalho, podem
acontecer projetos que facilitem a construção de
habilidades, conceitos e competências.
É fundamental valorizar-se a educação familiar e o trabalho desenvolvido pelo professor da turma de
origem da criança, através do diálogo constante com essas instituições.
● PÚBLICO
ALVO
ü Alunos da Rede Pública, do 1° ao 5º ano do
Ensino Fundamental das séries iniciais,alunos das séries Finais e Ensino Médio.
ü Alunos que, sem motivo aparente, não conseguem
ser alfabetizados.
ü Alunos que precisam de mais recursos, ou
atenção mais individualizada, para aprenderem.
ü Alunos que perderam o prazer natural por
aprender.
ü Alunos sem disciplina interna, sem limites, com
problemas de relacionamento na escola.
ü Alunos com problemas afetivos, inclusive de
auto-estima, conduta típica, construção de memória.
● AVALIAÇÃO
1. Histórico do Aluno
- Descrição
das características do aluno (sociabilidade e afetividade);
- Relacionamento
com a família e grupos;
- Expectativas
da família;
- Antecedentes
de atendimento. (caso já tenha freqüentado outra escola);
- Antecedentes
de atendimento de outra natureza (clínicos e terapêuticos).
2. Relacionamento do Aluno na Escola onde Está Matriculado.
(com os professores e colegas)
3. Relacionamento do aluno com o professor
especialista;
4. Relacionamento com seu grupo social
5. –Interesse;
- Atenção;
- Concentração;
- Execução da
atividade;
- Resistência
à fadiga;
- Pontualidade
(freqüência nos atendimentos);
- Compreensão
e atendimento a ordens;
- Desenvolvimento
de habilidades de vida diária;
- Desenvolvimento
de habilidades para a vida autônoma;
- Organização
do material pessoal;
- Habilidade
sensório-motora;
- Percepção e
memória visual;
- Percepção e
memória auditiva;
- Percepção
de diferenças e semelhanças;
- Orientação
temporal;
- Orientação
espacial;
- Linguagem e
comunicação oral;
- Linguagem e
comunicação escrita;
- Raciocínio
lógico-matemático.
- Expressão criativa;
- Conteúdos pedagógicos: referentes à leitura,
escrita espontânea, base alfabética, interpretação de pequenos textos, percebendo qual a fase que o aluno
se encontra.
____________________
* Especialista em Educação
Básica na E. E. Presidente Tancredo Neves e Professora de Educação Especial na
E. E. Professora Dona Preta, ambas em Taiobeiras, MG.
Nenhum comentário:
Postar um comentário