quinta-feira, 11 de outubro de 2012

SALA DE RECURSOS - ESCOLA ABERTA ÀS DIFERENÇAS

Gabriela Lucas Rocha*


Ter uma Sala de Recursos é mais uma grande conquista para a Escola. Lembrando que toda Inclusão depende primordialmente do olhar de cada um.           

O paradigma da inclusão educacional orienta o processo de mudanças desde a educação comum aos serviços de apoio especializados com vistas a promover o desenvolvimento das escolas, constituindo práticas pedagógicas capazes de atender a todos os alunos. O sistema educacional inclusivo está fundamentado na Constituição Federal/88, que garante a educação como um direito de todos, e no Decreto Nº. 6.949/2009, que ratifica a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU/2006), assegurando o direito de pleno acesso à educação em igualdade de condições com as demais pessoas.

Dessa forma, a construção da educação inclusiva requer a definição de políticas públicas que visem a alterar a organização dos sistemas paralelos de ensino comum e especial, consolidando uma proposta de educação especial integrada ao projeto político pedagógico da escola comum, capaz de contrapor as diferentes formas de exclusão e garantir as condições de acesso, participação e aprendizagem. Conforme a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC/2008), a educação especial constitui uma modalidade de ensino não substitutiva à escolarização dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. O Decreto Nº. 6.571/2008 define o Atendimento Educacional Especializado - AEE e institui o financiamento, no âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, para a oferta do AEE aos alunos matriculados nas classes comuns do ensino regular da rede pública.

Com vistas a orientar a oferta do AEE em articulação com o ensino regular, o Conselho Nacional de Educação - CNE estabelece Diretrizes Operacionais para o AEE na Educação Básica, por meio da Resolução Nº. 4/2009. Neste contexto, ampliam-se as políticas públicas para o desenvolvimento inclusivo das escolas por meio dos programas de acessibilidade, formação continuada de professores e implantação de salas de recursos multifuncionais na rede pública.

Sala de Recursos é a implementação de serviços de apoio pedagógico especializado e tem por objetivo melhorar a qualidade na oferta da educação especial da rede estadual, mediante uma reorganização que favoreça a adoção de "novas metodologias", nas classes especiais bem como a inclusão gradativa do alunado em classes comuns do ensino regular. “ É um espaço organizado com materiais didáticos, pedagógicos, equipamentos e profissionais com formação para o atendimento às necessidades educacionais especiais, projetadas para oferecer suporte necessário à estes alunos, favorecendo seu acesso ao conhecimento, podendo atender alunos com deficiência, altas habilidades/superdotação, ou outras necessidades educacionais especiais.”

            A Sala de Recursos oferece às escolas públicas, atendimento às crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem, não é Reforço Escolar. A aprendizagem é concebida como processo de interlocução das pessoas com o mundo, no qual educar passa a ser fundamentalmente movimento e relação. Nesse contexto, quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender. Educador e educando tornam-se cúmplices na grande e desafiadora aventura de viver, reinventando a cada dia a alegria e o prazer de aprender / ensinar, de conhecer / recriar o mundo e a si mesmos como cristãos construtores do Reino de Deus na Terra. Muitas vezes um olhar focado no aluno, nas suas vivências, nos seus vínculos, na sua maneira de aprender, na relação que ele estabelece com o conhecimento trazem-nos pistas valiosas que irão facilitar nossa prática educativa. Sabe-se que, em uma sala de aula com escassez de recursos e muitos alunos, isso pode não acontecer.

O projeto oferece, meios para que dificuldades sejam atenuadas, alternativas para que o processo de descobertas e o relacionamento aluno- escola seja melhorado. Desejo que, através do trabalho desenvolvido na Sala de Recursos, o aluno encontre o gosto pelo saber e se torne sujeito ativo de sua própria aprendizagem. Que, através das experiências vivenciadas e pela mediação desses recursos, desenvolva mais sua autonomia e aprimore seus relacionamentos com as pessoas e com sua comunidade.

● OBJETIVOS
ü   Assumir o atendimento a crianças com dificuldades de aprendizagem, geradoras de exclusão, viabilizando sua reintegração ao espaço escolar de origem;
ü   Atender crianças da Rede Pública que estejam apresentando dificuldade no processo de Alfabetização;
ü   Oferecer um atendimento diferenciado ao aluno das classes de Ensino Regular, pelo enriquecimento de recursos, pela variedade de procedimentos e pela individualização do ensino;
ü   Promover o protagonismo do aluno, como agente de sua aprendizagem, pela valorização de sua identidade e pela consciência do valor do conhecimento para uma vida mais plena;
ü   Promover a valorização de outras habilidades e potencialidades da criança, bem como a questão da afetividade e de outros caminhos que tragam felicidade, autonomia e realização para o aluno;
ü   Criar condições para que o trabalho da Sala de Recursos seja diferente do da sala de aula (individual, pequenos grupos ou grupos de até 6 alunos);
ü   Resgatar o prazer de aprender e, ao mesmo tempo, valorizar a importância do esforço e da perseverança no trabalho;
ü   Ouvir o aluno e, através dessa escuta, descobrir o "melhor caminho" a ser seguido;
ü   Ajudar o aluno a compreender e a trabalhar com a questão do tempo (uso de ampulhetas e relógio);
ü   Identificar e utilizar tudo o que é motivador para esse aluno;
ü   Identificar, na família, qual a pessoa com quem poderemos contar, por exercer influência positiva sobre a criança;
ü   Ajudar o aluno a descobrir como ele aprende e como deve estudar para obter sucesso na escola;
ü   Criar o hábito da auto-avaliação constante, revendo tudo o que é realizado (elaboração mental);
ü   Contar com material variado que ajude na leitura;
ü   Ler muito para a criança (variados e significativos tipos de textos);
ü   Estimular trabalhos que envolvam criatividade;
ü   Resgatar sempre a auto-estima, mostrando para a criança seus avanços, incentivando-a a prosseguir, melhorando seu desempenho, quer de hábitos sociais, quer de conteúdos previstos;
ü   Estabelecer, periodicamente, pequenas metas a serem alcançadas, mapeando-as graficamente, de maneira que a criança possa acompanhar seu desenvolvimento;
ü   Família e aluno devem assinar um compromisso de trabalho com a Sala de Recursos envolvendo a questão da freqüência e pontualidade;
ü   Se houver necessidade, a criança pode ser encaminhada a outros serviços (fonoaudiológico, psicológico).

● ESTRATÉGIAS
O planejamento para o trabalho com cada criança é traçado a partir de uma avaliação diagnóstica, realizada de maneira interventiva, objetivando a percepção das potencialidades do aluno, de acordo com suas reações, sem mediação e, posteriormente, com mediação. Todo trabalho é centrado na realidade da criança, em sua identidade, seu nome, sua família, suas motivações, no que ela já sabe, em seu repertório de competências, em suas habilidades, em sua singularidade.

A partir desse espírito de acolhimento e respeito, cria-se uma abertura para o diálogo, abrindo-se para o novo, para o outro e para o entorno.

Trabalhando-se sempre o cognitivo junto com o afetivo, criam-se vínculos que facilitarão e darão maior sabor à aprendizagem.

O trabalho apoia-se na inter-relação das crianças, em duplas ou em grupos, porque é sabido que o seu desenvolvimento é facilitado pela mediação estabelecida com seus pares. Mesmo acreditando na capacidade do educando, sabemos que nem sempre o seu ritmo corresponde às expectativas dos ensinantes. É fundamental nesses casos, mantermos o espírito aberto, porque se algumas portas se fecham, com certeza, outras janelas se abrem.

Através do uso de várias atividades adequadas ao momento da criança, é possível ajudá-la a ter consciência de como ela aprende, como é capaz e o quanto o aprender é gratificante. Através do jogo, da história, de atividades criativas, de novas descobertas, vai se dando significado e o prazer de conhecer ressignificado.

O educador deve oferecer caminhos alternativos para a aprendizagem, sempre que for necessário, bem como fazer com que essas experiências estejam contextualizadas.

Durante o trabalho, podem acontecer projetos que facilitem a construção de habilidades, conceitos e competências.

É fundamental valorizar-se a educação familiar e o trabalho desenvolvido pelo professor da turma de origem da criança, através do diálogo constante com essas instituições.

● PÚBLICO ALVO
ü   Alunos da Rede Pública, do 1° ao 5º ano do Ensino Fundamental das séries iniciais,alunos das séries Finais e Ensino Médio.
ü   Alunos que, sem motivo aparente, não conseguem ser alfabetizados.
ü   Alunos que precisam de mais recursos, ou atenção mais individualizada, para aprenderem.
ü   Alunos que perderam o prazer natural por aprender.
ü   Alunos sem disciplina interna, sem limites, com problemas de relacionamento na escola.
ü   Alunos com problemas afetivos, inclusive de auto-estima, conduta típica, construção de memória.

● AVALIAÇÃO
1. Histórico do Aluno
 - Descrição das características do aluno (sociabilidade e afetividade);
 - Relacionamento com a família e grupos;
 - Expectativas da família;
 - Antecedentes de atendimento. (caso já tenha freqüentado outra escola);
 - Antecedentes de atendimento de outra natureza (clínicos e terapêuticos).
2. Relacionamento do Aluno na Escola onde Está Matriculado. (com os professores e colegas)
3. Relacionamento do aluno com o professor especialista;
4. Relacionamento com seu grupo social
5. –Interesse;
 - Atenção;
 - Concentração;
 - Execução da atividade;
 - Resistência à fadiga;
 - Pontualidade (freqüência nos atendimentos);
 - Compreensão e atendimento a ordens;
 - Desenvolvimento de habilidades de vida diária;
 - Desenvolvimento de habilidades para a vida autônoma;
 - Organização do material pessoal;
 - Habilidade sensório-motora;
 - Percepção e memória visual;
 - Percepção e memória auditiva;
 - Percepção de diferenças e semelhanças;
 - Orientação temporal;
 - Orientação espacial;
 - Linguagem e comunicação oral;
 - Linguagem e comunicação escrita;
 - Raciocínio lógico-matemático.
 - Expressão criativa;
 - Conteúdos pedagógicos: referentes à leitura, escrita espontânea, base alfabética, interpretação de pequenos textos, percebendo qual a fase que o aluno se encontra.
____________________
* Especialista em Educação Básica na E. E. Presidente Tancredo Neves e Professora de Educação Especial na E. E. Professora Dona Preta, ambas em Taiobeiras, MG.

Nenhum comentário:

Postar um comentário