LUÍS ANTÔNIO GIRON*
Morrer ou morder, eis a nova questão. A Saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer, arrancou o nada das entranhas da metafísica. A obra nos adverte que o espírito e o amor se sobrepõem à vida. Ensina que tudo vale a pena se a dentada não for pequena. De súbito, encontramo-nos todos em plena selva em uma batalha em que ninguém cogitava participar, insitintos contra a alma, acaso versus transcendência. Há uma criatura controladora a vigiar cada movimento, censurando nossas fraquezas. Eu não confio nesse vampiro pálido cujas faces pálidas de lorde Byron ocultam o ímpeto de um déspota oriental. Byron aparentemente se sacrificou à liberdade. Edward preconiza a escravidão da alma. Não gosto de Edward (Robert Pattinson), mas minhas filhas o amam. O garoto-morcego da franquia bíblio-cinematográfica veio para ficar e oficiar o rito de passagem dos adolescentes que, ao adentrarem na idade adulta, aconselha, devem se comportar como bons cidadãos, de preferência no outro mundo. O que, então, Crepúsculo tem a ensinar sobre a vida?
Vamos responder à questão de forma pausada e racional. Comecemos pela novidade. A terceira parte da série, Eclipse, estreia cercada de segredos de polichinelo e excitações forçadas. Gente acampou em Los Angeles para a avant-première da terceira parte da adaptação cinematográfica da tetralogia – tetralogia que, por razões do enorme sucesso da franquia, tornou-se pentalogia no cinema. Por aqui, centenas de espectadores fantasiados de vampiros e lobisomens enchem as salas de projeção. Até os mais velhos aderiram, como procuramos mostrar na reportagem de Época. Descobrimos mulheres de mais cinquenta anos levadas por suas filhas a esperar nas longas filas para assistir ao filme. A culpa não é das senhoras, mas desta nossa cultura da banalidade, do ridículo e da anulação da esperança. Restam seres fantásticos para alimentar o escapismo do público. Isso demonstra também que há um nicho de mercado a ser explorado: as consumidoras neovirgens, aquela fatia de mulheres que anseia pela restauração de uma inocência irremediavelmente extraviada. As virgens de cinquenta anos são insaciáveis em sua busca pelo príncipe encantado, pelo sonho jamais cumprido.

Eis a jogada: Bella se julga a dona de seu destino, mas não passa de uma presa fácil. Entrega sua vida a Edward para que assim, no além-túmulo, ele possa realizar seus desejos. O tão sonhado ato sexual consigna a submissão da jovem. Sabemos que eles consumarão o ato mergulhados nas águas de Angra dos Reis, no quarto volume da série, e que Bella engravidará de um perigoso bebê vampiro, que fará seu útero quase explodir. O último volume da “saga” conta as agruras de uma mãe com medo de perder o filho e ser obrigada, supremo pecado, a abortar.
O paradoxo é que Bella só se realiza como mulher no instante em que morrer. Ela já não possui sangue nem coração. É uma morta-viva esvaziada de todos os seus fluidos vitais. Encontra-se condenada à vida eterna, a assistir ao desfile dos seres e desejos alheios pela entediante passarela da História. Como, então, poderá sentir luxúria? Ou pior: como conseguirá atrair um vampiro antigo como Edward, que já viu essa cena se repetir milhões de vezes? Ela própria cultivará sentimentos e desejos sub specie aeternitatis? Talvez não, porque ela terá de sorver sangue para manter a perpetuidade de seu ser.

As lições da Saga Crepúsculo são simples. Edgard e Bella demonstram que a vida se revela inútil e que a eternidade é preferível, embora não acene com um mar de rosas. A eternidade, caso os consumidores puderem atingi-la, compreende um oceano de sangue. Quanto mais o vampiro beber de seu conteúdo, mais sedento ficará.
(Luís Antônio Giron escreve às terças-feiras)
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*Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV
Gosto de vampiros, mas os de verdade
ResponderExcluirAcho esse artigo muito interesante ja que profundiza muito bem o disgosto e horror que tenho ao ver a um vampiro que, originalmente, seduzia as mulheres para converti-las em amantes, procrear filhos e desatar a conquista pelo mundo, virar um "vegetariano" metido a bonzinho. Acho essa saga um insulto ao livro de Bram Stoker, Dracula, Carmilla, assim como a cualquer amante de vampiros e de lobisomens. É uma pena ver e saber que sao esses libros azucarados que falam do amor impossivel e "prohibido" os que ganham fama na molecada de hoje em dia, ao invez de algo mais fiel a lenda dos vampiros ao genero de terror, tal é o caso do "The Strain" do Guillermo del Toro que, mesmo sendo mais hollywoodense e parecendo um filme em livro, fica fiel a guerra entre humanos e vampiros, a conquista do mundo e a todas essas historia de terror pelas quais os vampiros se tornaram famosos e as criaturas míticas que sao mais aclamadas e queridas do mundo.
O vampirismo invade o novo século recrutando adeptos e divulgando sua ideologia. Antes de qualquer conclusão sobre a suposta existência de vampiros, faz-se necessário explicar o significado do termo. A palavra vampiro veio do húngaro e do alemão vampir, e do francês vampire, que quer dizer:“entidade lendária que, segundo superstição popular, sai das sepulturas à noite para sugar o sangue dos vivos pouco a pouco, a morte por inanição”.Outra definição acrescenta outro significado, qual seja: espectro, espírito ou ‘alma do outro mundo’. A divulgação em massa por meio do cinema, televisão, jornais e revistas é a causa principal para tal cultura flácida em que se envolve a atual sociedade. Para se ter uma idéia, em todo o mundo existe mais de dez mil sites de organizações vampirescas. A origem dos vampiros ganhou popularidade nos últimos cem anos, principalmente por causa do sucesso do livro Drácula, romance escrito na ultima década do século xix pelo irlandês Abraham Bram Stoker. De toda essa avalanche demoníaca que a mídia tem propagado sobre a possível existência dos vampiros, não se pode negar que muitas pessoas estão sendo influenciadas por tais ensinos. Em algumas tribos africanas, por exemplo, o ato de beber sangue de recém-nascidos é muito comum como forma de rejuvenescimento físico e espiritual dos adultos, além de rituais macabros, sexo anormal, entre outras coisas. Tudo por causa do vampirismo, febre que vem atravessando séculos e recrutando adeptos.
ResponderExcluirQue bom que vocês publicaram no blog um tema tão atual e que relamente é a linguagem dos jovens,ésse é ralmente o caminho, um blog de uma escola para atingir seu principal público alvo que é os alunos deve primeiramente ser atraente para eles. Penso que temas tão importantes como virgindade, paixão e adolescencia devem ser discutidos mais ativamente nas escolas e os educadores tem uma tremenda responsabilidade visto que estes assuntos muitas vezes não se fazem presentes no circulo familiar cercado de muitos tabus e preconceitos.
ResponderExcluirParabéns pessoal pela matéria sobre Crepúsculo.
ResponderExcluirÉ\ muito bom,pois assim os jovens e adolescentes estarão mais cientes do que veem nos filmes e nA INTERNET.
UM GRANDE ABRAÇO DE ......-ARARICÁ-RS-BRASIL